O que se oferta às crianças...
Cecília Meirelles
Quem se habilita a ofertar à criança uma página, um verso, um dizer – que o faça com a unção de quem deposita flores ao altar de uma alma...
Quem se atreve a modelar os
sonhos das novas gerações e projetar imagens que criarão atos e impulsos,
pensamentos e outras criações, que o faça com a responsabilidade absoluta da
Beleza e do Bem...
Nada de oferecer um restolho de
inspiração, o que sobrou nas prateleiras de idéias rejeitadas para o mundo dos
adultos e que sob uma embalagem graciosa se dê empacotado para a pequena alma
infantil – que pode encerrar uma grandeza oculta aos olhos da carne!
É preciso doar à criança o que
de melhor nos escorrer do espírito, em estado de graça e simplicidade! Algo que
possa servir para a vida toda e até mais além, eternidade afora...
A facilidade fútil com que os
adultos costumam, sobretudo nesses tempos banais, confeccionar historietas e
livretos, poeminhas e toda a multiplicidade de imagens televisivas, é um
desrespeito à inteligência que torna ao mundo, na expectativa de arrojados
progressos espirituais!
Quanto cuidado é preciso para se
extrair algo do escrínio da inspiração, que seja digno da pureza infantil e ao
mesmo tempo substancial para o Espírito eterno, que habita o corpinho tenro!
Comovo-me ao contemplar esses
olhinhos espremidos de curiosidade e atenção, sequiosos de uma semeadura que
povoe a mente de ideais promissores, de inspirações grandiosas... e quão
criminosos não seremos se, ao invés do pão espiritual, apenas lhes lançarmos
açucaradas guloseimas ou, ainda pior, o veneno disfarçado em prato apetitoso
aos olhos ingênuos!
A palavra semeada numa alma de
criança pode frutificar amanhãs radiosos, mas também pode se tornar um espinho
indesejável, de que muitas vezes ela não conseguirá se livrar. Nunca serão
excessivos os cuidados que tomarmos com o alimento de arte que possamos lhes
oferecer.
Quando escritores se debruçarem
sobre a página em branco, para respingar idéias e metáforas para as crianças,
que se elevem para o infinito, pois é de infinito que devemos fecundar o
futuro. Quando pais e mestres buscarem as páginas já escritas, que escolham as
que mais possam refletir idéias transcendentais e não as que se arrastam na
miséria apenas do cotidiano.
Não digo, com isso, que a
literatura infantil deve ser preenchida de metafísica pedante e indigesta. Ao
invés, é na simplicidade que moram as grandes idéias do Bem e do Amor e é na
vida transpassada para a beleza das palavras que habitam os exemplos dignos de
serem conhecidos e as aventuras mais excitantes da evolução espiritual.
Que se transportem as jornadas
interessantes a terras longínquas ou a outros planetas em metáforas da grande
aventura que é o progresso do Espírito em direção à luz das estrelas! Que se
saiba traduzir o Bem e a Verdade sem o moralismo maçante das igrejas, mas com a
poesia que o universo mesmo oferece aos olhos atentos e sensíveis do verdadeiro
artesão das palavras!
Há tantas fontes de inspiração
inexploradas, há tantas belas palavras ainda não suficientemente bem arranjadas
para carregarem no bojo mensagens eternas, que quase me sinto tentada a repetir
meu ofício na próxima vida terrestre, e quiçá alcançar maior elevação do que me
foi dado realizar, para escrever novamente a esses seres que adoro. Esses seres
que, enquanto crianças, manifestam o que de melhor há na humanidade para ser
amado.
Enquanto isso, vou inspirando
aqui e ali, anônima ou explicitamente, aqueles que se afinam com esses
propósitos, mas esperando sempre que os adultos finalmente se convençam dos
cuidados extremos que devem tomar no cultivo da alma infantil.
Mensagem psicografada pela
médium Dora Incontri/ 31/7/92
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